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Curso de Teatro
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quarta-feira, 5 de agosto de 2009

antropologia teatral?

É o estudo do comportamentocênico pré-expressivo que se encontra na base dos diferentes gêneros, estilos e papéis, e das tradições pessoais ou coletivas. Em uma situação de representação organizada, a presença física e mental do ator/bailarino é modelada segundo princípios diferentes daqueles aplicados à vida cotidiana. Esta utilização extra-cotidiana do corpo-mente é aquilo que se chama técnica. As diferentes técnicas do ator/bailarino podem ser conscientes e codificadas ou ainda inconscientes mas implícitas no uso e na repetição de uma prática cênica. A análise transcultural mostra que é possível individualizar alguns ‘princípios que retornam’. Estes princípios, quando aplicados a alguns fatores fisiológicos como peso, equilíbrio, uso da coluna vertebral e dos olhos, produzem tensões físicas pré-expressivas. Trata-se de uma qualidade extra-cotidiana da energia que volta ao corpo cenicamente "decidido", "vivo", "crível"; deste modo a ‘presença’ do ator, consegue manter a atenção do espectador antes de transmitir qualquer mensagem. [...] A capacidade de concentrar-se sobre o nível pré-expressivo possibilita uma ampliação do conhecimento com consequências imediatas, tanto sobre o plano prático, profissional, quanto sobre o plano crítico e histórico do trabalho. O conhecimento dos princípios pré-expressivos que governam o bios cênico permite algo mais: aprender a aprender. [...] O trabalho do ator funde em um único perfil três aspectos diferentes correspondentes a três níveis de organização bem distinguíveis. [...]
1. A personalidade do ator, sua sensibilidade, sua inteligência artística, sua individualidade social que torna cada ator único e irrepetível.
2. A particularidade da tradição cênica e do contexto histórico-cultural através dos quais a irrepetível personalidade do ator se manifesta.
3. O uso do corpo-mente segundo técnicas extra-cotidianas baseadas sobre ‘princípios que retornam’ transculturais. Estes ‘princípios que retornam’ constituem aquilo que a Antropologia Teatral define como campo da pré-expressividade.
[...] A Antropologia Teatral dirige sua atenção a este território empírico para traçar um caminho entre as diversas especializações disciplinares, técnicas e estéticas, que se ocupam da atuação. A Antropologia Teatral não pretende fundir, acumular ou catalogar as técnicas do ator e do bailarino. Busca o simples: a técnica das técnicas. [...]

Autor: Eugênio Barba
Fonte: A Tradição da ISTA [pág. 15-16] – Festival Internacional de Londrina [FILO/1994]

terça-feira, 28 de julho de 2009

única vez [1]

Quando ele abriu os olhos, rapidamente fechou. Fechado é mais confortável. O silêncio ao redor não o tranqüilizava, só o deixava ainda mais em alerta. Teve a sensação de que seus olhos estavam costurados, tamanho era o esforço para conseguir abri-los. Um furtivo raio de luz atinge sua retina. Achou melhor se manter naquele estado. Nenhum som até o momento. – Gritar? Durante a indecisão, sentiu um odor estranho que preenchia suas narinas como bolas de algodão. Lembrou do banheiro de sua casa. Visualizou o vidro sobre o balcão da pia, com tampa de cortiça, cheio de bolas de algodão. Nunca havia introduzido nenhuma delas em suas narinas, mas pela textura bem que poderia ser. Dá um salto, ficando quase de joelhos. Teve certeza que algo havia lhe tocado nas costelas. Abriu os olhos ao máximo, suportando a dor até onde podia. Um vulto. Por causa da dor teve que fechar os olhos. Abriu novamente. O vulto estava mais próximo. Fechou os olhos. Abriu novamente. O vulto havia sumido. Fechou os olhos. Ouviu um som grave e pesado. Abriu novamente os olhos. O vulto movia-se rápido. Sentiu uma rajada de vento e fechou os olhos. Tentou caminhar pelo espaço. Escorrega. Retoma o equilíbrio, mas leva uma pancada forte por trás, na base da nuca. Cai. Ao mesmo tempo solta um urro quase ensurdecedor e fica gemendo no chão. Antes que possa entender o que está acontecendo, leva um chute nas costelas. No mesmo local onde há poucos minutos atrás teve a certeza de que algo havia lhe tocado. Mais um urro, porém se conteve a tal ponto, que se os seus órgãos internos tivessem ouvidos, estariam surdos. - Pensou que eu tinha esquecido, é? Continua gemendo. Não entendeu o que foi dito, apenas percebeu que alguém havia dito algo. Gemia cada vez menos, mas sem esquecer da dor muscular nas partes atingidas. É pego pelos cabelos e sua cabeça é erguida uns dois palmos do chão. Sente um hálito quente e amargo em seu rosto, e mais uma vez o mesmo tom de voz. - Filho da puta! Não entende o que está acontecendo. Subitamente sua cabeça é largada. Seu pensamento voa longe. A esposa. O cachorro. Um cafezinho em uma padaria qualquer. Um fim-de-semana. Outros pensamentos em frações de segundos. Contra a sua vontade é convidado de forma brusca a retornar rapidamente para a realidade, quando algo que ainda não conseguiu identificar lhe puxa o tornozelo. [continua]


terça-feira, 21 de julho de 2009

poesia 1

1.

Hoje descobri:
Durante a noite
Estrelas são produzidas
Em série
Dentro dos túneis.
2.

Pontos úmidos na minha roupa
Na minha sandália
Minha cabeça fria
Meu peito frio
Eu sem ar; a brisa me ergue

segunda-feira, 13 de julho de 2009

relato


Logo que saí do pátio escuro e sombrio, deparei-me com uma senhora que cruzava a rua lenta e desatentamente. Duas garotas dão risadas ao longe [não sei o motivo]. As sementes/folhas que vejo espalhadas no chão formam um desenho interessante, mas não deve ser por este motivo que um taxista buzina. Uma outra garota que caminha, bem mais à frente, segue caminhando. Assim como eu, que, sereno, sigo o facho de luz que se forma a minha frente, composto por inúmeras lâmpadas. Não faço questão nenhuma de seguir a luz no fim do túnel. Viro a direita assim que possível. A brisa que toca suave a pele do meu rosto é levemente gelada. Um buraco. Dois buracos. Custa-me seguir à diante. Mas me esforço em resolver a dificuldade. Pois o que busco vale o leve esforço. A brisa voltou! Um cão late. Um gato cruza a rua. Só vejo um vulto. Acho que era um gato. Passa um táxi por mim e buzina. Não era o mesmo. Talvez nem fosse para mim. Coincidência? Não sei. Estou chegando. Onde? Não sei. Mas sei que cheguei.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

longínquos afagos

A sua mente já corroída pela doença o impede significativamente de buscar detalhes em sua memória. A culpa não é exclusividade da doença. O médico o medicava de forma errônea. Assim, as lesões maiores vieram em decorrência da negligencia. Era uma constante seus pais ensinarem coisas do cotidiano, fato comum a qualquer família, e do ponto de vista deles era o mais correto a ser feito. A partir deste instante que eles se dedicavam a cuidar do filho, pois ele não poderia fazê-lo sozinho, já incutiam regras sociais na tenra criatura. A mãe, por esquecimento, comum inclusive, não havia tomado seus medicamentos e a euforia, quase descontrolada invadiu sua boca. 

- Chegou o dia da pré-escola meu filho! 

O pai, que não fugia muito a regra.

- Eu, sua mãe e a escola, vamos socializa-lo querido!

Maldito dia este. Depois de todos estes anos grudado na “barra da saia”, debaixo das mãos e dos olhos do pai, o mínimo que poderia pensar, mesmo que intelectualmente impossível devido sua idade, era: - Isto é uma injustiça sem tamanho. Pobre de mim. Rodeado por algumas dúzias de crianças estranhas. Sabe deus o que elas podem fazer comigo caso aquela mulher, que me foi explicado posteriormente, e que minha mãe disse ser a professora, saísse de perto de mim.

A mãe sempre demorava para voltar e busca-lo, montada em uma bicicleta enorme. Mesmo que a cada dia fosse sempre a mesma quantidade de horas, demorava. - Do meu ponto de vista eram horas demais. Por que ela me deixava lá?

Em breves meses as coisas mudaram. Já não sentia mais a falta. Os amigos novos eram substancialmente mais interessantes. Inclusive mais do que os amigos/vizinhos. Talvez enjoado deles? Em uma das extremidades do imenso pátio de “pedra-brita” da pré-escola está o menino, e em outra extremidade, na cozinha, espiando por uma janela, uma das merendeiras conversando com a colega.

- É impressão ou aquele menino lá no pátio está passando mal?

- Urrando e se contorcendo daquele jeito, só pode estar.

De súbito, branca e ofegante, surge a professora na cozinha.

- Vocês viram aquele loirinho gordinho?

- Aquele?

- É, meu deus! Esqueci de dar o remédio.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

construções

Se eu estou “fechado”, só posso criar algo “fechado” para meu trabalho. Mas se estou “aberto”, pode até existir, por opção, a possibilidade de eu criar algo “fechado”, mas existirá então, paralelamente, a possibilidade de criar elementos “abertos”. Ao criar algo para meu trabalho, não existe mal nenhum em utilizar uma técnica pronta, já estudada por alguém, desde que se tente absorver ao máximo e transpor para uma realidade própria. Acredito que é necessário utilizar características próprias, internas e verdadeiras, mesclar com a técnica que se optou por utilizar, e seguir em busca da organicidade, sem perder a identidade do seu trabalho. Mas como fazer com que o orgânico pareça natural no palco? Tarefa difícil! Busca constante! Yoshi Oida, defende, que é praticamente impossível. Entretanto, é essencial parecer. Quando estamos inseridos em um teatralidade que visa a grupalidade, é necessário estar aberto também aos comentários dos outros. Confiar na sugestão/observação do companheiro. Precisamos um do outro durante os treinos ou na busca da técnica apropriada para cada grupo. Só temos um ao outro, e é onde devemos nos agarrar para encontrar o caminho da “abertura orgânica”.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

clown

Na tradição, sempre foi um virtuose das acrobacias. O tempo e a idade foram agindo [como sobre qualquer outro humano]. Não podendo mais realizar os seus números, ensinava-os a um jovem, que o substituiria, e ele então surgiria.

A chave está naquilo que ele não sabe fazer, lá onde ele é fraco. É preciso aceitar-se e mostrar-se tal como se é. Uma criança que cresceu e que o senso comum não permite desvelar. Mas a cena permitirá, melhor do que a vida.

A menor máscara do mundo.

Ele sabe realizar seus fracassos com talento. Entrega-se puro e sem defesas.

Surge o “riso do corpo”, onde a graça é orgânica.

A graça foi criada ou ela já estava ali? Talvez em algum canto escuro. E desbloqueado/desarmado ela surge quando simplesmente me permito “estar”.

domingo, 19 de abril de 2009

ator e arte

O Teatro é a Arte do Ator

O movimento está subordinado às leis da forma artística. Em uma representação, é o meio mais poderoso. O papel dos movimentos cênicos é mais importante que qualquer outro elemento teatral. Privado de palavra, de vestuário, de bambolinas, do edifício, o teatro, com o ator e sua arte de movimentos, os gestos e as interpretações fisionômicas do ator informam o espectador sobre seus pensamentos e seus impulsos; o ator pode transformar em teatro qualquer tablado, não importando onde nem como, abstendo-se dos serviços de um construtor e confiando em sua própria habilidade. É preciso tratar da natureza específica do movimento, do gesto e da interpretação fisionômica.

Vsevolod Meyerhold [discípulo de Stanislavski]

domingo, 22 de março de 2009

delírio

Infinitas portas se abrindo. A mesma quantidade se fechando. Os ruídos se tornavam cada vez mais intensos. Tão intensos que se apoderaram do meu pensamento. Dentro de mim, não paravam de abrir e fechar.

Coisas saiam.

Coisas entravam.

Enquanto meu cérebro se tornava aquoso, eu ordenava que os músculos do rosto relaxassem. A escuridão era grande e aumentava. Meus sentimentos faliram. Quando me dei conta, os olhos ardiam como a chama de um fósforo recém riscado.

O teto estralava, como se a tinta descolasse, sem surgir sequer uma rachadura. Os sons distantes dos carros que passavam na rua, a essa hora da noite, invadiam meus ouvidos sem me perturbar, mas sim, embalando-me num sono tranqüilo.

Talvez isso não passasse de um desejo muito íntimo. Só me resta aceitar o momento.

sábado, 21 de março de 2009

palco/vida :: vida/palco

A.ção (sf): ato ou efeito de atuar; resultado de uma força física ou moral; possibilidade de executar alguma coisa; modo de proceder; atividade, energia, movimento.

A ação (dramática) não pode ficar apenas no físico ou mental, mas na união dos dois. Cotidianamente agimos a todo instante, tudo é ação. Cenicamente falando, algo precisa se transformar. Não me interessa esta energia/movimento, se na cena ela for cotidiana. Pode até ser uma ação cotidiana, mas sua construção, antes de ir para a cena, deve ser feita a partir de estados físicos extra-cotidianos. E mesmo assim, posteriormente, enquanto espetáculo, não será cotidiano, pois o estado, o local e o momento por si só já são extra-cotidianos.

Como se dá então essa construção da ação? Quer seja sobre o companheiro ou um objeto, algo deve me mover, mesmo que não seja possível ver fisicamente, mas internamente algo me transforma antes de exteriorizar fisicamente a ação.

Yoshi Oida¹ diz que para aperfeiçoarmos uma ação, para que tenha um verdadeiro sentido, deve-se fragmentá-la. É preciso detalhá-la mais e mais, antes de chegar ao final da ação.

Na construção da ação é preciso perceber tudo que ocorre com nosso processo de criação. Observar detalhes que podem passar despercebidos, e que poderiam ser de grande importância. Fugir da previsibilidade é de suma importância, o ideal é se entregar aos estímulos e sensações, sem se preocupar, neste primeiro momento, com a forma. Procure o limite, mas quando encontrar, já não serve, pois é necessário rompê-lo para ir a diante. Não posso ter medo de abrir mão daquilo que já criei, é uma troca constante. As mudanças devem significar refinamento, mais sensibilidade. 

O ator pode funcionar como uma seqüência de fotografias, porem, estas imagem que temos/vemos devem estar em constante estado de transformação para se encaixar na próxima imagem, e esta, na seguinte. 

¹ Yoshi Oida. Um Ator Errante, BECA, 1999, São Paulo.

quinta-feira, 19 de março de 2009

estou agindo?

“Uma obra de arte torna visível o invisível” [Wassily Kandinski]

Estar aberto para receber as informações externas e transmutá-las a nosso favor, é de extrema importância, em especial aos que pretendem dedicar-se ao fazer teatral. É importante perceber que em alguns momentos é necessário nos “desligarmos” para realizar um trabalho e uma observação interna mais apurada. Um trabalho sobre si.

 É comum deixar envolver-se facilmente pelo conforto, deixando assim, por vezes, de agir em nossa vida. O conforto nos envolve rapidamente. Quando temos uma cadeira, queremos uma poltrona, depois um sofá, almofadas, um televisor... No trabalho do ator isto também pode vir a ocorrer.

 O ator não deve agir para significar algo, pois as ações significam porque tem um sentido. Todo movimento, todo gesto, precisa ser impregnado de sentido, ou seja, precisa ser transmutado em ação. A ação deve ser formulada fisicamente. Experimentar com o corpo, registrar no corpo, e posteriormente realizar o conjunto de ações e identificar seus sentidos e caminhos.

 O que me faz pegar uma caneta? Qual o sentido disto? Existe diferença para mim, pegar uma caneta para assinar um testamento ou escrever um bilhete dizendo que fui comprar pão, e volto logo?

 Precisamos descobrir qual a “tensão” justa/exata para nossas ações. Afinal, precisamos de espaço interno para a energia circular. Não posso estar com os músculos contraídos e com isso bloquear meu corpo.

 Não me agrada sair de uma aula, ensaio, treino ou atividade similar e ter certeza de que determinada coisa é assim e isso me basta, ou apenas a confirmação de algo que eu já imaginava, mas sim, sempre auto questionar-me e trabalhar sobre.

 Aprenda por você mesmo suas limitações, seus obstáculos e a maneira de superá-los. Construa a sua cena degrau por degrau, sem fazer imitações, com toda personalidade, com todo corpo. Como resultado, você perceberá que o corpo começou a reagir “totalmente”, o que significa que está quase aniquilado de mazelas viciosas, que quase não existem mais, o corpo não oferece mais resistências.

 Seus impulsos estão livres!

recomendo

  • http://www.ciacarona.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=129&Itemid=98
  • http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u25609.shtml
  • http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=338&Artigo_ID=5239&IDCategoria=6005&reftype=2
  • http://www.sescsp.org.br/sesc/revistas/revistas_link.cfm?Edicao_Id=332&Artigo_ID=5164&IDCategoria=5922&reftype=2
Minha foto
“A página que no início era branca, agora está cruzada de alto a baixo por minúsculos sinais negros, as letras, as palavras, as vírgulas, os pontos de exclamação... Contudo, há uma espécie de inquietação no espírito, há essa vontade de vomitar muito próxima da náusea, há uma oscilação que me faz hesitar em escrever... ” [Jean Genet]