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Curso de Teatro
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terça-feira, 28 de julho de 2009

única vez [1]

Quando ele abriu os olhos, rapidamente fechou. Fechado é mais confortável. O silêncio ao redor não o tranqüilizava, só o deixava ainda mais em alerta. Teve a sensação de que seus olhos estavam costurados, tamanho era o esforço para conseguir abri-los. Um furtivo raio de luz atinge sua retina. Achou melhor se manter naquele estado. Nenhum som até o momento. – Gritar? Durante a indecisão, sentiu um odor estranho que preenchia suas narinas como bolas de algodão. Lembrou do banheiro de sua casa. Visualizou o vidro sobre o balcão da pia, com tampa de cortiça, cheio de bolas de algodão. Nunca havia introduzido nenhuma delas em suas narinas, mas pela textura bem que poderia ser. Dá um salto, ficando quase de joelhos. Teve certeza que algo havia lhe tocado nas costelas. Abriu os olhos ao máximo, suportando a dor até onde podia. Um vulto. Por causa da dor teve que fechar os olhos. Abriu novamente. O vulto estava mais próximo. Fechou os olhos. Abriu novamente. O vulto havia sumido. Fechou os olhos. Ouviu um som grave e pesado. Abriu novamente os olhos. O vulto movia-se rápido. Sentiu uma rajada de vento e fechou os olhos. Tentou caminhar pelo espaço. Escorrega. Retoma o equilíbrio, mas leva uma pancada forte por trás, na base da nuca. Cai. Ao mesmo tempo solta um urro quase ensurdecedor e fica gemendo no chão. Antes que possa entender o que está acontecendo, leva um chute nas costelas. No mesmo local onde há poucos minutos atrás teve a certeza de que algo havia lhe tocado. Mais um urro, porém se conteve a tal ponto, que se os seus órgãos internos tivessem ouvidos, estariam surdos. - Pensou que eu tinha esquecido, é? Continua gemendo. Não entendeu o que foi dito, apenas percebeu que alguém havia dito algo. Gemia cada vez menos, mas sem esquecer da dor muscular nas partes atingidas. É pego pelos cabelos e sua cabeça é erguida uns dois palmos do chão. Sente um hálito quente e amargo em seu rosto, e mais uma vez o mesmo tom de voz. - Filho da puta! Não entende o que está acontecendo. Subitamente sua cabeça é largada. Seu pensamento voa longe. A esposa. O cachorro. Um cafezinho em uma padaria qualquer. Um fim-de-semana. Outros pensamentos em frações de segundos. Contra a sua vontade é convidado de forma brusca a retornar rapidamente para a realidade, quando algo que ainda não conseguiu identificar lhe puxa o tornozelo. [continua]


Um comentário:

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“A página que no início era branca, agora está cruzada de alto a baixo por minúsculos sinais negros, as letras, as palavras, as vírgulas, os pontos de exclamação... Contudo, há uma espécie de inquietação no espírito, há essa vontade de vomitar muito próxima da náusea, há uma oscilação que me faz hesitar em escrever... ” [Jean Genet]